sociedade

Doutora aos 70 anos


O tempo, os cabelos encanecidos, pernas um tanto trôpegas não impediram meu desejo de sonhar, realizar e voar! Só que nós, povo negro, voamos tipo gansos, em formação em V, jamais voamos sozinhos, porque o ganso que ocupa a ponta, ao bater as asas, facilita o voo dos que veem atrás. E assim, o lugar do líder vai sendo ocupado pelos demais, alternadamente.  

Febeapá: nova temporada

Antes de mim, pelos corredores do Centro de Educação já passou outra mulher negra, linda e maravilhosa, aliás, lindas e maravilhosas somos todas nós mulheres que lutamos contra a exclusão, a violência, o discurso racista. Protegemos nossos filhos e ainda sonhamos por nós e por eles.

Na segunda-feira, 13 de agosto, data de defesa de minha tese, no programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM, lembrei muito do símbolo Sankofa, um ideograma que faz parte do sistema de escrita Adinkra, empregado pelos povos Akan, da África Central. A Sankofa representa uma ave migratória com o pescoço voltado para trás, e significa que apesar de voar para frente, ele olha sempre para trás, para o passado. E nesse retorno ao passado, encontro minha mãe, Dona Lucília com seus conselhos e as colegas de infância e juventude Roselene de Souza, Suzana Cartier, minha irmã Graças, o clã das Domingues: Lourdes, Carmem, Suzana e Estela em algazarra juvenil, andando pela Sete, rumo ao Maneco e Cilon Rosa. A memória me presenteia com a imagem das primas Ritas (Ana e Matilde). Reencontro a saudosa Mariazinha Domingues, que com suas conversas de pé de orelha, estimulava as jovens que frequentavam a Sociedade União familiar a não se acomodarem e a escaparem, através dos estudos, das cozinhas das patroas. Abraço Dona Tereza Valmerate que me oportunizou conviver no cotidiano da Sociedade Afro Resistência e Força (SARF) e no Projeto O Negro e a Educação, desenvolvido pela Secretaria de Educação/RS a postos estavam Vera Lúcia Valmerate, Sara e Luiza Saucedo Corrêa. Num período mais recente a referência, foi no Museu Treze de Maio, com Giane Vargas Escobar, Sirlei Barboza e tantas outras pessoas que ajudaram a me construir. UBUNTU! Eu estou aqui, porque atrás de mim, uma rede de sustentação me serviu de apoio. Humildemente reconheço e agradeço a todas.

O homem que nunca desiste

Ao contemplar o futuro, como Sankofa, acolho os olhares enternecidos das estudantes e dos estudantes cotistas, que compareceram à minha defesa ou enviaram mensagens. Eu sei que estão vibrando. Havia luz nos olhinhos de vocês, por isso compartilho esse título com todos os cotistas da UFSM. A partir de agora, seremos regra, não exceção. O muro de Berlim do racismo institucional está sendo derrubado!

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Crianças conectadas: cuidados redobrados Anterior

Crianças conectadas: cuidados redobrados

VÍDEO: você quer ser alguém ou qualquer um? Próximo

VÍDEO: você quer ser alguém ou qualquer um?